PARTE 1

 Era uma vez uma terra onde a flor da Liberdade não vingava, embora o seu povo fosse bom e acolhedor, gente de trabalho, sonhadora, viajante…


Naquela terra só quatro plantas ruins cresciam, e tinham nomes terríveis: a planta da Ditadura, a planta da Pobreza, a planta da Prisão e a planta da Guerra.

A planta da Guerra atacava povos irmãos, colonizados e explorados, que reclamavam a independência das suas terras: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau...

Os que se opunham à planta da Ditadura e defendiam que livremente se pudesse eleger os governantes, esses muitas vezes eram presos. Quantos não eram obrigados a fugir para terras estrangeiras! E os mais pobres partiam cada vez mais para outros países, em busca de trabalho e melhor vida.

Num mágico dia de Abril de 1974, cansados de não ver brotar a flor da Liberdade, capitães e soldados arrancaram de vez aquelas plantas tão ruins. E – maravilha! – logo a Liberdade começou a crescer do chão, e mais tarde das mãos, em forma de cravo vermelho.

Eram tantas as flores que o povo (e como antes trabalhara e sofrera ele para que crescessem!) correu à rua a enfiá-las nos canos das espingardas.

Por isso, aquela Revolução foi de festa e foi sem sangue. E as flores da Democracia, de Melhor Vida, da Paz e da Justiça começaram, também elas, a crescer como nunca se vira.

(…)